Maní
3 min readDec 16, 2022

Tudo o que só se aprende conhecendo uma mulher na internet

Quantas vezes na vida você já conheceu uma mulher de outra cidade (ou estado) na internet, e então a convidou para passar o fim de semana na sua casa?
 — mais de uma, se posso dizer
É claro, também tem as vezes em que eu fui ao encontro de mulheres que conheci na internet, peguei carona com desconhecidos e passei dias vivendo um primeiro encontro estendido
Mas naquele dia em específico, era eu quem aguardava a visita.
Definitivamente uma outra eu,
possivelmente uma eu que hoje está morta.

Lembro que tudo estava fora do lugar, precisei erguer a voz no telefone
desfazer nós em mim
e no amor que sentia
Fechei uma porta de uma maneira nova, impetuosa e decidida, como se não fosse eu mesma a dizer
não a versão daquele tempo
Estava segura, mas só aos olhos que não os meus
Chorei, sentada no chão do quarto, sentindo tristeza e raiva

Alheia ao meu sofrimento, a casa estava caótica
Ironicamente combinando com a minha cabeça
Desliguei o telefone com o coração ateado fogo
Tive que organizar tudo,
na casa e dentro do meu peito,
sinceramente não posso dizer que consegui
fiz o que pude.

Quando estava acabando a arrumação já era hora de me aprontar para receber Sara,
o dia não costuma esperar, de qualquer forma.
Olhei as mensagens - ela chegaria em uma hora.
Fiz meu ritual de arrumar a mim mesma como quem pinta um quadro

A sexta feira estava nublada, desci o elevador do prédio enquanto minha cabeça exibia diversas cenas recentes das minhas lembranças fodidas
As imagens passando praticamente em todos os telões do mundo.
Meu coração palpitava de um jeito que não sei descrever, no meio da bagunça
- como se estivesse me mudando de casa por meses a fio, e no meio da mudança, das caixas,
malas espalhadas e um sofá de cabeça pra baixo, enquanto uma banda inteira toca no meio da sala.
Tudo isso em mim ao mesmo tempo em que conheci essa mulher, tudo foi de um jeito diferente - se é que posso chamar assim um match feito no aplicativo de relacionamentos.

As minhas próprias palavras recém lançadas corriam junto do meu sangue
Saí da casa me perguntando se minha aparência revelava as palavras gravadas nas minhas veias
Já no elevador, por 27 segundos extremamente longos, tempo que costumava ser parte dos meus cenários,
meu sangue passou a vibrar me fazendo sentir estranhamente eu

O dia lá fora estava frio
meu celular vibrou - ela estava chegando - desceria há alguns quarteirões dali
apressei o passo e meu coração acompanhou
Andei rindo pelas ruas de uma cidade do interior, um riso de quem não sabe o que vem por aí
Sorri pensando no jogo de perguntas que fiz com a mulher que conheci por um aplicativo de cupido.

A noite estava caindo rápido e o dia cinza ajudava,
a temperatura baixava junto do sol e as ruas estavam movimentadas por pessoas indo pra casa
Me senti na contramão, ia ao encontro de uma mulher intensa, instigante e que em duas semanas me encontrou em tantas curvas malditas da vida
De fato, eu só a conhecia há duas semanas
o que pode ser mais imenso e desconhecido que uma mulher como ela?
A verdade é que nem isso eu era capaz de imaginar, na época.

Nesta ocasião, andei nas ruas de inverno ansiosa pra ver pessoalmente a mulher careca que fez meus olhos acenderem, que me movimentou com suas perguntas e me torceu, tudo isso há quilômetros de distância

Faltavam alguns minutos de caminhada, subi a rua da casa telada onde moravam 6 gatos
meu coração estava descontrolado no peito como quem bate na porta e me diz que alguém realmente está chegando.

Maní

Escrevo para não morrer e acabo vivendo mais do que o planejado.